Você deveria ter feito isso: quando o dispositivo estiver conectado ao carregador, conecte o telefone na tomada. Você pode até usar o fone de ouvido enquanto carrega o telefone. Ao receber um vídeo postado no WhatsApp, você deve estar com medo.
Nele, um homem usa um aparelho para “provar” que um celular carregando passa corrente elétrica e pode dar choque.
“Isso significa que o celular está energizado e que é um perigo você falar no celular com ele carregando. Pode ser fatal”, diz o homem em tom de alerta ao mostrar que o dispositivo detecta tensão no cabo e no próprio aparelho.
Mas será que o perigo é real?
Especialistas consultados pela BBC News Brasil dizem que o risco existe – apesar de ser bastante reduzido caso o carregador e a bateria do celular sejam originais e estejam em bom estado de conservação.
“Nem carregador nem celular são construídos para dar choque ou explodir. Eles nascem para serem seguros. Mas se houver falha no carregador, principalmente nos não originais, ou na própria bateria, pode ter problemas. Então, se pode acontecer, a recomendação é que a pessoa não faça o uso do aparelho com ele carregando”, diz o engenheiro eletricista Edson Martinho, diretor-executivo da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel).
Considerando o número de celulares existentes no Brasil e quantas vezes por dia eles são carregados, não são tão “comuns” os acidentes. Mas eles acontecem.
Levantamento da própria Associação mostra que, só no primeiro semestre de 2021, foram registradas 10 ocorrências de choque elétrico causado no ato de carregamento, com 6 óbitos. Houve ainda 3 casos de incêndio por sobrecarga.
Em um dos casos mais recentes, uma mulher morreu no interior de Pernambuco após levar choque em celular conectado à tomada.
Vídeo não prova choque, mas alerta é válido
No vídeo que está sendo compartilhado no WhatsApp, fica a sensação de que aquele celular está passando uma corrente elétrica que pode dar choque no usuário.
Martinho, presidente da Abracopel, aponta dois possíveis problemas no “conceito” do experimento. Primeiro, o aparelho sensível pode até detectar corretamente que há uma tensão elétrica ali, mas não consegue diferenciar a intensidade.
Os carregadores de celular normalmente têm um transformador e outros componentes que vão converter a corrente alternada de 110, 127 ou 220 volts (depende da sua tomada) em uma corrente contínua entre 5 e 9 volts – uma tensão muito baixa para dar choque.
Para reduzir custos, porém, fabricantes de carregadores não originais podem eliminar algumas medidas de segurança que protegem o usuário.
O próprio Martinho conta que já fez um experimento em casa com carregadores “piratas”, utilizando um detector profissional: “Fiz um teste na saída do celular, e dava 50 volts”, diz.
Outro ponto que pode influenciar o experimento é a possibilidade de o aparelho captar, na verdade, ondas eletromagnéticas geradas na passagem da corrente pelo fio do carregador e pelo celular.
“Com passagem da corrente, ali tem um fluxo de elétrons. E isso gera, em torno do cabo, um campo elétrico e magnético. Esse tipo de aparelho tem a sensibilidade de identificar que ali existem essas cargas eletrostáticas, mas isso não quer dizer que vai dar choque”, explica Marcony Melo, especialista em Eficiência Energética da Enel, a concessionária de energia elétrica que atua em Estados como São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro.
“Agora, se o carregador estiver quebrado, com isolamento rompido, ou for de má qualidade, há um risco.”
Outro ponto importante para diminuir a possibilidade de acidentes é ficar longe de um aparelho carregando durante um temporal, com raios.
Essas descargas atmosféricas geram um campo magnético que induz na rede de energia uma tensão muito maior. E isso pode levar a problemas não só para um carregador, mas para qualquer aparelho conectado à rede de energia.
De acordo com Melo, o risco é maior se levar o aparelho ao ouvido para atender uma ligação ou usar fones. Ter o aparelho apenas na mão (para mexer em aplicativos e redes sociais) e estar calçado diminuem ainda mais a chance de acidentes.
Baterias
Além de ter carregadores de boa qualidade e bem conservados para reduzir a possibilidade de choque, também devemos estar atentos à bateria original do aparelho.
Isso porque as explosões nos celulares – que normalmente aparecem no noticiário – são normalmente um resultado de um superaquecimento e falhas nesse equipamento.
Se o celular estiver completamente carregado, mas seguir conectado à tomada, uma válvula nas baterias originais costuma proteger contra possíveis falhas.
“É como uma bóia de uma caixa d’água, ela vai interromper a passagem de elétrons. Se falhar, eles seguirão enchendo a bateria”, explica Martinho.
Marcony Melo, da Enel, alerta os usuários a observarem se a bateria está esquentando mais e por mais tempo que o normal durante o carregamento. “E se você perceber uma ondulação, que ela está inchada, muito cuidado. Tem que levar para revisão, porque ela poderá explodir”.
Como minimizar riscos na hora de carregar o aparelho
– Se há um temporal, fique longe do aparelho carregando.
– Quando for dormir, deixe o aparelho longe de você e de objetos inflamáveis.
– Se precisar atender um telefonema, desconecte o aparelho do carregador.
– Não usar fones de ouvido
– Use carregadores certificados pela Anatel (com selos)
– Fique atento aos carregadores falsificados. Eles normalmente são mais leves, por estarem ocos por dentro, e podem trazer imperfeições.
– Não carregue o celular em áreas úmidas, como banheiro e área de serviço.
– Se for mexer no telefone, use calçados nos pés.
Via: Estado de Minas